Quando a Blizzard confirmou que Diablo III estava em produção, os jogadores, através de inúmeras maneiras de manifestação, demonstraram que ainda nutrem especial carinho por Role Playing Games virados para a acção, vulgos, Hack and Slash. Apesar da série Diablo ser a estrela que mais brilha nesta constelação, existem algumas alternativas, estando Sacred nos primeiros lugares.
Com o sobrenome "Fallen Angel", a estória de Sacred 2 leva-nos de novo ao universo de Ancaria. Aliás, regressámos a Ancaria dois mil antes dos acontecimentos do Sacred original terem acontecido. Depois de elegermos o nosso herói de um lote de seis classes (Seraphim, High Elf, Dryad, Inquisitor, Shadow Warrior e Temple Guardian), temos duas escolhas à disposição: ou seguimos o caminho do bem e tentámos levar Ancaria a um estado pacífico ou, no caso de quererem experimentar ser o mau da fita, podem induzir o universo de jogo a um estado de caos e guerra.
No cerne da trama está a T-energy, fonte inesgotável de conhecimento e prosperidade. Tal como na vida real, a sede de poder é enorme e várias facções tentaram roubar o controlo da T-energy aos High Elves. Os detentores da substância venceram o confronto, mas porém, tamanha batalha deixou um rasto de destruição proporcional e, como consequência, a tão desejada energia espalhou-se por Ancaria, transformando um cenário paradisíaco em algo dantesco, onde emergem criaturas que ameaçam arrasar a vida dos que sobreviveram. A narrativa não se esforça muito por sair do corriqueiro, colocando quem joga em mais uma guerra do bem contra o mal, da luz contra escuridão, resumidamente, clichés diversamente abordados.
A compor a campanha principal terão ao dispor várias side quests, algumas das quais estão interligadas com a substância que alimenta o argumento, a T-energy. Contudo, a maior parte das mesmas têm como objectivo tarefas insignificantes. Procurar itens perdidos, pessoas desaparecidas, ingredientes para poções, enfim, pequenos afazeres que vos mantêm ocupados a percorrer o mapa e a ganhar experiência de jogo.
Experiência que é usada tal e qual como em qualquer outro Role Playing Game. Dependendo da classe que escolheram no início, sobem de nível, ganham novas habilidades, novas armas, e continuam a matar tudo o que se cruza no vosso caminho até chegarem a níveis superiores, altura em que o jogo revela alguns dos poderes mais interessantes e letais. Uma das ausências que mais estranhámos foi a falta de pontos de magia para atribuir ou gerir.
Se não gostarem de grandes períodos de exploração solitária, podem ligar o PC à internet e participar em sessões de jogo com suporte para até 16 em simultâneo. A personagem utilizada a solo é a mesma utilizada em rede, o que serve para manter experiência e itens que forem ganhos nas várias secções do jogo. Sempre que jogámos com outros jogadores nunca chegámos a sentir latência digna de registo. Em sessões mais concorridas houve algum engasgo, porém nada que prejudicasse a experiência no seu todo.
Tecnicamente, Sacred 2 toca nos dois extremos. Graficamente é muito belo, os cenários transbordam vida a cada canto e esquina, arrebatando a visão de quem por lá vai passando o tempo. Todavia, erros infantis como personagens presas no cenário, inimigos que ficam limitados a uma animação ou ângulos de câmara que não favorecem minimamente a acção, fazem com que o jogador esteja quase sempre com um olho na beleza do cenário e personagens, e com o outro nos seus comportamentos ridículos. Ficámos sem perceber como é que uma editora tem um interregno de quatro anos entre os dois jogos e cai em erros de principiante.
No que ao áudio diz respeito, não soará a canto de sereia a ninguém, mas a banda sonora é competente em criar ambiente. E num jogo com um universo grande e denso, dotado de uma campanha que ultrapassa as duas dezenas de horas, manter os ouvidos dos jogadores ocupados com harmonia é algo satisfatório.
No cômputo geral, Sacred 2 é uma sequela que não traz nada de novo ao género. Prima pelo grafismo, mas espalha-se por terra com o seu pobre argumento, erros de novato e inteligência artificial tosca. No panorama PC, não é mais do que uma pastilha elástica para se ir mascando até chegar algo melhor.
-----Pontuação Total: 70 (razoável)
Gráficos:90
Jogabilidade:65
Som:79
Valor:60
Pormenores:55